Jorge Terra

14 de março de 2021

Alemanha cria plano em 100 etapas para integração de estrangeiros

Projeto é debatido há quase três anos e visa melhorar a integração dos imigrantes na sociedade, no sistema educacional e no mercado de trabalho na próxima década.


Sala de aula cheia de alunos. Há bandeirinhas da Alemanha sobre algumas mesas.

Sistema de educação alemão é um atrativo para estudantes estrangeiros

Em muitos lugares, conseguir um emprego pode ser considerado o suficiente para que um estrangeiro esteja integrado com sucesso na sociedade. Mas, na Alemanha, esse tipo de pensamento simplista está prestes a desaparecer.

Após quase três anos de planejamento e discussões, a chanceler federal, Angela Merkel, e líderes estaduais e cívicos anunciaram nesta terça-feira (09/03) 100 medidas para um Plano de Ação Nacional para a Integração.

Um dos projetos, por exemplo, é introduzir um sistema em que estagiários alemães sejam mentores de estagiários estrangeiros, para que ninguém se sinta excluído.

“A verdadeira coesão social exige mais do que apenas a ausência de ódio e violência”, disse Merkel. “Requer tolerância e abertura um para o outro”, completou.

A cúpula de integração foi a última de Merkel antes do fim do seu mandato, já que novas eleições ocorrem no outono europeu e ela já deixou claro que não pretende seguir no cargo, que ocupa desde 2005.

Observando como o conceito de integração mudou ao longo de seus 15 anos de governo, Merkel disse que a Alemanha aprendeu que “a integração não afeta apenas alguns grupos, mas a sociedade como um todo”.

A cúpula, liderada pela comissária de Integração, Annette Widmann-Mauz, reuniu cerca de 120 pessoas, representando estados, municípios e organizações civis.

Em uma conferência de imprensa após a cúpula, Widmann-Mauz enfatizou a importância, especialmente durante a pandemia, de traçar uma estratégia de integração eficaz o mais rapidamente possível para garantir o papel da Alemanha como “um país economicamente forte e moderno para a imigração do futuro”.

“Conseguimos muito nos últimos anos e, agora, devemos fazer tudo ao nosso alcance para que a pandemia do coronavírus não seja um obstáculo para essas conquistas”, disse ela.

O que é o Plano de Ação Nacional para a Integração?

Lançado em 2018, o Plano de Ação Nacional tem como objetivo a construção de um roteiro de integração para a década de 2020.

O projeto conta com a participação de cerca de 300 parceiros, que representam estados, cidades e aproximadamente 75 organizações de migrantes.

Em sua essência, os 100 pontos se dividem em cinco categorias, que vão desde medidas de pré-integração, como definir expectativas antes de uma pessoa imigrar para a Alemanha, até reforçar a coesão social por meio da educação e de atividades sociais.

A discriminação foi um dos principais focos das conversas de terça-feira. Merkel e outros palestrantes enfatizaram que os ataques terroristas com motivação racial, como o ocorrido no ano passado em Hanau, quando nove pessoas de origem estrangeira foram assassinadas, são grandes retrocessos para a criação de um ambiente seguro e inclusivo na Alemanha.

Junto com a prevenção da violência, o plano de ação também exige uma expansão dos esforços de combate à discriminação, como centros de aconselhamento que podem ajudar pessoas que, por exemplo, passaram por incitação ao ódio ou se viram impedidas de trabalhar por causa de sua etnia ou religião.

“As vítimas de discriminação não podem ser abandonadas. Suas experiências devem ser levadas a sério. Para garantir isso, elas precisam do apoio de um aconselhamento profissional antidiscriminação”, disse o chefe da Agência Federal Antidiscriminação da Alemanha, Bernhard Franke, em um comunicado à imprensa.

Por que a integração é um tema tão latente na Alemanha?

A integração tem sido o foco de muitos debates acalorados na Alemanha nos últimos anos, desencadeados em grande parte pelo fluxo migratório histórico de refugiados entre 2015 e 2019. Durante esse período, a Alemanha recebeu mais de 1,8 milhão de pedidos de asilo – o equivalente a cerca de 75% de todos pedidos apresentados na última década.

As discussões sobre como lidar com a logística de uma grande população de refugiados, oriunda principalmente de Síria, Afeganistão e partes da África, rapidamente se concentraram em preocupações com a integração.

Essas preocupações reacenderam discussões sobre a integração de outros grupos de imigrantes há muito estabelecidos na Alemanha, particularmente os turcos e seus descendentes, que constituem a maior minoria do país. Apesar de uma melhoria nas taxas de educação, esse grupo tinha, em 2017, ainda três vezes mais probabilidade de ter problemas para encontrar um emprego ou depender do bem-estar do Estado do que os alemães sem raízes turcas, de acordo com um estudo da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).

Tendência de imigração vai além da crise de refugiados

Aproximadamente uma em cada quatro pessoas que vivem atualmente na Alemanha tem raízes estrangeiras. Além disso, a Alemanha ocupa o segundo lugar entre os países da OCDE com mais imigração, atrás apenas dos Estados Unidos. Esses tópicos reforçam que a integração vai muito além dos refugiados.

Graças a uma economia forte, a Alemanha também viu crescer o número de trabalhadores estrangeiros qualificados. Na maior parte, eles vêm de estados membros da União Europeia. Em 2018, essa parcela representava 60% de todos os imigrantes que vieram para a Alemanha. O sistema de ensino superior alemão também tem sido um ímã para estudantes estrangeiros, com mais de 400 mil  matriculados em universidades alemãs antes da pandemia.

  • Symbolbild Toleranz
  • DEZ REGRAS SOCIAIS DA ALEMANHA QUE TODO ESTRANGEIRO DEVERIA CONHECER
  • Respeite as diferenças
  • A sociedade alemã é construída com base no respeito e na tolerância. Os cidadãos são livres para seguir suas próprias preferências religiosas, sexuais, entre outras, desde que não violem os direitos de terceiros nesse processo. Homossexuais são respeitados, assim como pessoas de diferentes religiões – ou mesmo aquelas que não seguem religião nenhuma.

fonte: DW Brasil – 10,03,2021 – Kathleen Schuster

2 de julho de 2017

RAPIDAMENTE

RAPIDAMENTE, passo a te fazer algumas perguntas que podem ou não ter relevância para ti.

Seres ou não doador de sangue ou de órgãos diz algo sobre o seu nível de solidariedade?

No seu Estado ou no seu Município, o Secretariado também é composto por um número significativo de mulheres brancas?

Na instituição a que eventualmente pertences, todas as pessoas que alcançam destaque ou poder se apresentam como heterossexuais?

Deveria ser exigido que o candidato seja egresso da escola pública ou que tenha estudado em escola privada em decorrência de ter sido contemplado com bolsa de estudos nas ações afirmativas de cunho racial no campo da educação?

Nas últimas duas eleições nas quais votaste, o fato de os candidatos dizerem que era tempo de mudança influenciou na tua decisão?

Quando observas, conversas ou trabalhas com uma pessoa com deficiência física, mental ou intelectual, consegues ver as potencialidades dela?

Vês problema no fato de alguém amar tanto uma pessoa de outra raça a ponto de casar e de ter filhos com essa pessoa?

Consegues distinguir quando há o interesse legítimo por uma causa e não um interesse político-partidário, profissional ou financeiro?

Dentro das suas possibilidades, estás fazendo algo para melhorar a vida coletiva?

Partindo do pressuposto de que escolheste uma religião, pergunto se já conversaste, em mais de uma ocasião, sobre liberdade religiosa com ateu ou com pessoa que professa outra religião.

É de seu conhecimento que as mulheres negras, mesmo nas faixas com 11 anos ou mais de escolarização, atingem uma porcentagem maior de desemprego e percebem menor remuneração do que as mulheres brancas e do que os homens brancos e negros no Brasil?

Saber que cerca de 95% das pessoas que compõem os conselhos de administração das 117 maiores empresas brasileiras são homens te leva a pensar que essas instituições são grandes por terem maioria masculina nesse importante setor das empresas?

Obter a informação de que aproximadamente 94% das pessoas que compõem os conselhos de administração das 117 maiores empresas brasileiras são brancas te leva a pensar que basta ter competência para se chegar a esse importante  setor das empresas?

O acesso diferenciado de filhos de militares aos colégios militares é legítimo?

Sabias que segundo dados de 2017, de cada 100 pessoas que morrem em razão de homicídio no Brasil, 71 são negras?

Consideras importante saber mais sobre a história e a cultura de pessoas de raça ou de nacionalidade diferente da sua?

Diante das composições de sucessivos governos federais, estaduais e municipais (que sendo governos de coalizão, abarcam numerosos partidos), acreditas que há partidos brasileiros que querem ou sabem como integrar nos centros de decisão mulheres, negros e pessoas que não se apresentam como heterossexuais?

Está na hora de começares a fazer e a responder tuas próprias perguntas?

Jorge Terra
REDE AFRO-GAÚCHA DE PROFISSIONAIS DO DIREITO

15 de fevereiro de 2017

Chá de fraldas e formatura

                             Não consegui ir no chá de fraldas do Gabriel, tampouco na formatura da Amanda. Todavia e talvez por isso, ambos ficaram em meus pensamentos por alguns dias.

                          Em síntese, pensava sobre as vidas novas que estão a se inaugurar: a nova de Gabriel será iniciada com o fim da intrauterina em Abril de 2.017; a de Amanda com a percepção sobre as mudanças decorrentes da colação de grau.

                           Em que mundo essas novas vidas serão vividas e o que esse mundo espera de ambos? Essas eram as questões que se aquartelavam em minha mente.

                           Ao meu ver, vivemos em grupos, embora não admitamos. E isso dificulta a construção de consensos transformadores dentro das instituições, dos Estados, das Empresas, das Sociedades. Sim, o grupo ao qual pertencemos tem a visão correta, o posicionamento justo e as ideias que podem levar ao desenvolvimento e à paz. Os outros, obviamente, não.

                       Aliás, até nos discursos contra o preconceito, destilamos preconceitos em toneladas facilmente perceptíveis. Seguidamente ouvimos e lemos frases de quem quer ter seguidores sem ter um caminho ou um destino. Basta, nesse cenário, adjetivar negativamente aquele que crê no que não cremos, canta o que não cantamos, beija quem não beijamos, quer as mudanças que não queremos ou é o que não somos. Esse é um modo fácil, enganoso, mas que leva a um resultado individual satisfatório. Exemplos não nos faltam.

                    Há, ainda, aqueles que optam por apenas destruir biografias, projetos, ideias. Na ausência plena de caminho a indicar e de algo edificante para propor, fazer julgamentos sem bem conhecer e não permitir que outros sejam sequer ouvidos também se apresenta como uma alternativa individual tentadora.

                  Sublinho que há grande possibilidade de eu estar errado e que talvez seja limitante pensar em termos de “certo ou errado” em um mundo de muito compartilhamento virtual e de escassos partilhamentos de tempo, de sentimentos, de ideias abrangentes e de solidariedade.

                Nesse ponto do texto, até considero normal que paire sobre as mentes de Amanda agora e de Gabriel em um momento bem lá no futuro, a plena certeza de que a amargura está a dominar e a me conduzir. Já adiantando que não tenho a fórmula adequada e nem creio que ela exista, registro e ressalto que ainda contenho a esperança.

               Minha esperança reside nas numerosas e diferentes pessoas com as quais convivo, estabeleço parcerias, debates construtivos e trocas de informações sempre com a convicção de que tenho muito a melhorar.

                   Permito-me dizer, Amanda, que a vida no campo que escolheste, o Direito, está a impor que não sejamos técnicos que sabem a ação adequada para cada situação. Saibamos isso, mas também tenhamos forte base no que é justiça, no que é desenvolvimento sustentável, no que é humanitário e humanizante. Assim, ao meu ver, podemos ser mais felizes e auxiliar muitos a também serem.

                   Ouso, Gabriel, afirmar que é possível ser humilde ao aprender e ao ensinar, ao receber a crítica justa e a injusta, pois ambas andam próximas, bem como ao se mover pela virtude e ao encontrar aqueles que também o fazem.

                     Nas novas vidas sofrerão a tentação da escolha do caminho mais fácil, aquele que não nos gera problema quando dizemos ou fazemos o que querem ouvir ou ver de nós em determinado momento ou que nos faz também atacar ou defender o que outros atacam ou defendem. Todavia, não se pode olvidar de que há outras visões e vidas vividas ao mesmo tempo que a nossa, tampouco que liberdade, igualdade e dignidade são valores e não palavras bonitas ou indecifráveis.

                      Viver e favorecer a vida de outros é uma arte e arte é o somatório de inspiração e de aprimoramento. Sejamos então mais esforçados para irmos coletivamente melhorando e rompendo as barreiras que nos separam uns dos outros.

                     Sei que falar é fácil e fazer sem uma receita pronta é difícil, podendo parecer impossível. Digo-lhes, e agora já pensando também nos meus filhos, afilhados e sobrinhos (que tanto me ensinam diuturnamente), que há, no mínimo, um caminho: tentar. Sim, tentar estar disponível, tentar conhecer, tentar ouvir, tentar demonstrar, tentar construir, tentar superar. Há tantas frentes, há tantas questões. Escolham e perseverem acreditando nos seus potenciais e nos das pessoas!

                    Bom, filhos, sobrinhos, afilhados, Amanda e Gabriel, finalizo pedindo desculpas pelas ausências em momentos tão importantes e colocando-me à disposição para rir ou para chorar juntos pessoal ou virtualmente.

                                                                 JORGE TERRA

18 de dezembro de 2016

NADA SOB A ÁRVORE

NADA SOB A ÁRVORE

M. N. tem 10 anos.

Embora veja outras crianças com idades próximas, devidamente autorizadas, caminharem ou até correrem em direção à uma enorme árvore de Natal em busca de presentes, ela permanece sentada.

Há crianças que a chamam; há adultos que insistem para que vá até a árvore, mas ela não se move.

M. N. sabe que seu pai está desempregado há muito tempo e que sua mãe, que há tempo mais do que o suportável, recebe sua pequena remuneração de forma parcelada e sem a devida correção.

M. N. sabe, pois aprendeu da pior forma para alguém em tenra idade, que há prioridades a serem enfrentadas e essas não dizem respeito a jogos, brinquedos ou roupas novas.

O não ir jamais deve ser encarado como uma questão de baixa autoestima. O não ir é maturidade, é o evitar mais um sofrimento.

M. N. tem uma longa história percorrida, mas uma maior e mais intensa pela frente, porque ela tem objetivos bem definidos a atingir.

Sim, M. N. quer poder dizer, como tanto ouve em uma terra tão chuvosa e fria: “Essa chuvinha é boa para dormir!”. É uma situação corriqueira a chuva no local onde ela mora, assim como também o é a frase. Quem a profere, o faz de forma espontânea e baseado em sua vivência. Certamente, não tem goteiras sobre sua cama como M. N.

M. N. quer ter uma profissão e, em decorrência dela, ter realização e conquistas materiais. Sim, M. N. quer ter sua casa, sua família, ter carro e livros em uma estante. O básico parece tão distante que soa como imerecido ou como devaneio em determinadas situações.

M. N. quer viajar. Tem tantas imagens nas retinas, falas já preparadas e lista de pessoas que quer ver juntas quando entrar no Coliseu, que pode a alegria não ser infinita como agora prevê que será.

M. N. tem potencial. Precisa de estrutura e de fatores que não o impeçam de aflorar.

Nesse ponto é que entramos nós: quem escreve e quem lê.

Lemos numerosas matérias e assistimos a muitos vídeos nos quais são abordados direitos humanos, solidariedade e qualidade de vida. Todavia, escassas são as práticas reveladoras de um estado civilizatório avançado.

Na mesma proporção, chegam-nos visões equivocadas de eficiência, querendo nos convencer de que ela está dissociada da construção de uma vida melhor para todos, sendo sinônimo de uma economia destinada à ampliação da desigualdade.

Acrescente-se a propalada e reforçada ideia de que todos estão em sofrimento – e na mesma proporção. Sim, se todos estão em sofrimento na mesma medida (já ouviste a expressão: “está ruim para todo mundo!”), como alguém pode destinar tempo para participar da solução do problema de outrem sem ser um irresponsável? O comportamento decorrente desse pensar torna-nos irresponsáveis pelo destino do conjunto da sociedade, incapazes de distinguir os que mais sofrem e de deixarmos de ser tão ensimesmados.

Então, está na hora de definirmos se as vidas das outras pessoas são ou não relevantes para nós. Se verdadeiramente forem, o passo seguinte é definir que tipo de ação podemos empreender ou apoiar e que esforços e parceiros devemos reunir para dar concretude às mudanças.

Se não for possível alinhar esforços (pense bem!) ao menos leve em consideração essas questões na hora de votar, na hora de interpretar o noticiário, de decidir se vais doar órgãos, se vais participar ou não de uma manifestação, se vais doar um gênero alimentício.

Os atos não precisam ser grandiosos, precisas é agir consciente e responsavelmente.

É possível ! Vamos fazer?

Jorge Terra

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