Jorge Terra

24 de novembro de 2019

Tese aborda desigualdades raciais na estrutura jurídica e pública

No Dia da Consciência Negra, comemorado no dia 20 de novembro, o doutorando do Programa de Pós-Graduação em Direito, da Escola de DireitoJorge Terra defendeu a tese sobre O Desafio da Superação das Desigualdades Raciais e da Discriminação: Uma Análise da Estrutura Jurídica e das Políticas Públicas no Brasil, a qual foi aprovada com louvor. A principal motivação para o recém-doutor mergulhar na questão foi a preocupação com os critérios de tomada de decisão em diversos âmbitos da sociedade. Terra conta que, hoje em dia, as pessoas têm mais acesso às informações, mas que não é suficiente. O questionamento sobre “que tipo de comportamento, enquanto sociedade, nós deveríamos tomar perante esses dados?” foi uma das suas inspirações para a tese.

Tese aborda desigualdades raciais e discriminação na estrutura jurídica e pública no país

Jorge Terra e banca avaliadora da tese de doutorado sobre a temática racial

O professor Carlos Alberto Molinaro, orientador do trabalho, afirma que o aluno merece grande mérito e destaque pela qualidade da pesquisa, que deve se tornar um livro muito relevante socialmente e academicamente. A publicação está nos planos de Terra: “Entendo que é um compromisso meu, como é um assunto que interessa à sociedade de forma geral. De alguma maneira, é meu dever fazer com que isso chegue a todos os cantos”, afirma.

Molinaro enfatiza que tudo o que pode contribuir para reduzir as desigualdades sociais é importante e que essa foi a primeira vez que orientou uma tese sobre o tema específico: “É um fator fundamental enquanto agentes de promoção de desenvolvimento social”, afirma. Ele lembra da importância do meio acadêmico nesse processo, citando eventos já realizados sobre o tema.

Ações antirracistas na prática

Na tese, Terra afirma que que é necessário combater os estereótipos raciais que possam comprometer o julgamento e as tomadas de decisão, independente do contexto político e da legislação. Ele conclui: “É possível tornar mais eficazes a estrutura jurídica, as políticas públicas e a infraestrutura institucional, dando-se concretude aos objetivos fundamentais previstos na Constituição vigente”.

Entre as propostas de políticas públicas comportamentais elaboradas pelo autor, estão as voltadas para educação, segurança, mercado de trabalho, saúde, infraestrutura institucional, esporte, cultura, mídia, recursos tecnológicos e internet. “Recomenda-se que instituições públicas em geral e, em especial as que implementem políticas públicas pertinentes aos domínios da educação, da segurança e da justiça, bem como as que realizem controle ou fiscalização dessas políticas públicas, promovam atividades que reúnam seus profissionais com a sociedade civil com o fim de capacitar os primeiros a julgar, a decidir e a avaliar questões sensíveis à raça”, conclui Terra.

Atuação na área de direitos humanos

Jorge Terra, 52 anos, também é coordenador da Comissão Permanente de Defesa dos Direitos Humanos da Procuradoria-Geral do Estado do Rio Grande do Sul, Presidente da Comissão Especial da Verdade da Escravidão Negra no RS (OAB), Procurador do Estado, entre outros cargos. Apesar de ocupar posições de destaque, ele conta que, geralmente, é um dos únicos negros nos ambientes em que frequenta: “Existem três procuradores negros no Rio Grande do Sul, entre os 400. Além de nós, houve apenas outra procuradora negra nos anos 80”, acrescenta.

Agora, Terra almeja realizar o pós-doutorado, mas tem um objetivo mais urgente. Ele planeja lecionar: “Quero colaborar na formação dos futuros profissionais do Direito”. Ao falar sobre os aprendizados do processo durante o doutorado, destaca que “é possível fazer” e conta que, muitas vezes, as pessoas perdem a esperança por não verem um caminho. “Acredito que meu trabalho traz esse caminho, essa possibilidade”, comenta o novo doutor.

Ele destaca que, quando cursou a graduação, não havia debate em sala de aula sobre direitos humanos, racismo e outras pautas relacionadas. Por isso, fica feliz em trazer o tema para dentro desse ambiente: “Quis buscar formas práticas e executáveis que o Direito possa implementar. O que nós não vemos são políticas públicas e estruturas políticas que sejam eficazes no enfrentamento desse problema”.


Fonte : Daniel Quadros – Comunicação Social da PUCRS

2 de novembro de 2019

Integrar, unificar ou o contrário

Hinos servem para unificar grupos direcionando-os a propósitos comuns? Ou hinos servem para marcar diferenças, participações diferenciadas e destinos dessemelhantes? Em verdade, dependendo da intenção das pessoas, podem servir tanto para o primeiro caminho como quanto para o segundo.

O conhecido hino do Estado do Rio Grande do Sul já foi alterado no ano de 1966 por se entendar que a parte retirada não espelhava a realidade local naquela ocasião. Isso porque ela se reportava às cidades-estado da Grécia.

Por esse fundamento, ou seja, o da desconexão, seria o caso de se promover concurso público para que nova modificação fosse promovida, retirando-se o trecho que estampa que “povo que não tem virtude, acaba por ser escravo”. Sabidamente, parte da população gaúcha se sente ofendida com esse trecho e, assim, não se gera integração entre grupos.

No interior do Rio Grande do Sul, há hino que também merece exame da comunidade e, ao meu sentir, também um concurso para exame de sugestões de trechos que unifiquem e não o contrário.

Refiro-me ao hino do Município de Santa Cruz do Sul. Ao ler sua letra, questiono se somente um grupo dos tantos que lá residiram ou residem gerou ou gera a sabida pujança daquela localidade. E mais. Pergunto-me se os imigrantes não se relacionaram ou não se articularam com outros grupos e se esses também algo produziram em benefício de toda a coletividade desde o surgimento da então colônia até os dias atuais. Além disso, embora se saiba da importância da religiosidade para aquela comunidade e da beleza de sua conhecida catedral, martelam questionamentos sobre a relação com a municipalidade e sobre eventual contribuição de grupos de pessoas que não sejam religiosas ou que professam religião que não sejam as majoritárias (católica e evangélica).

Assim consta no hino:

Por sobre nossas lindas terras
Loiro imigrante andou
Transpôs as nossas verdes serras
E longe do lar chorou, chorou!
Mas, nosso dadivoso chão
Com o enorme coração
Desvendou-lhe a sorrir
Mil promessas de provir

Deus te salve, terra amiga
Santa Cruz fiel
Santa Cruz gentil
Onde reina a Paz
Onde brilha a Luz
Sob o lenho de Jesus!

Ao Sol ardente destes céus
Acenderam-se os ideais
Nas forjas surgem os troféus
E na campina em flor as catedrais
E foi brotando deste afã
Da bravura alemã
A cidade crente e santa
Que sua Cruz ao sul levanta

Com a palavra, com autonomia para pensar de forma diferente e com a iniciativa para mudar ou não, a comunidade local. Todavia, deixam-se aqui duas perguntas: o hino nos termos atuais revela interesse em integrar toda a coletividade? A integração referida é uma questão irrelevante?

Jorge Terra

Crie um website ou blog gratuito no WordPress.com.