Jorge Terra

21 de setembro de 2014

AUDIÊNCIA PÚBLICA “O QUE FAZER PARA REDUZIR AS BARREIRAS DE ACESSO À JUSTIÇA PARA JUVENTUDE NEGRA EM SITUAÇÃO DE VIOLÊNCIA – vídeo

AUDIÊNCIA PÚBLICA “O QUE FAZER PARA REDUZIR AS BARREIRAS DE ACESSO À JUSTIÇA PARA JUVENTUDE NEGRA EM SITUAÇÃO DE VIOLÊNCIA”

Em 17.09.2014, no Conselho Nacional do Ministério Público, em decorrência de Protocolo assinado com outras entidades, foi promovida audiência pública com o fim de se colher informações, sensações e dados atinentes às barreiras de acesso à Justiça para a juventude negra brasileira.

A Rede Afro-Gaúcha de Profissionais do Direito, a convite do Conselho Nacional de Justiça, também participou do evento, aproveitando a ocasião para apresentar a proposta de que o Curso Acredite fosse tomado como projeto piloto para se intervir na composição do sistema de Justiça.

A íntegra da audiência pública está acessível pelo seguinte link:

Jorge Terra

Rede Afro-Gaúcha de Profissionais do Direito

 

11 de novembro de 2013

Explanação sobre o Curso Acredite no CNMP

Filed under: Uncategorized — jorgeterra @ 17:05
Tags: , , , , , , , ,

convite CNMP-page-001

12 de abril de 2013

REDE AFRO-GAÚCHA: UMA EXPERIÊNCIA QUE PODE SER REPLICADA

                       Rede Afro-Gaúcha: uma experiência que pode ser replicada

 

 

Cenário de atuação. Premissas de atuação. Composição. Forma de Atuação. Composição. Projetos. Objetivos. Planejamento. Eficiência.Relações com o Poder Público e com o Empresariado. Resultados obtidos. Sustentabilidade.

     A confirmação de que ainda persiste a necessidade de enfrentamento de questões relativas à diversidade étnico-racial está no fato de a Organização das Nações Unidas (ONU) ter editado resolução tratando do tema. Por intermédio do diploma supradito, a ONU declarou ser 2.011 o ano internacional do afrodescendente, reconhecendo que a situação hoje vivenciada merece atuação que a transforme para melhor.

   Sobre o assunto, assim se pronunciou Navi Pillay, Alta Comissária da ONU para os Direitos Humanos)[1]:

 “O Ano Internacional deve se tornar um marco na campanha em curso para promover os direitos das pessoas de ascendência africana. Merece ser acompanhada de atividades que estimulem a imaginação, aprimorem nossa compreensão da situação das pessoas de ascendência africana e seja um catalisador para uma mudança real e positiva na vida diária de milhões de pessoas ao redor do mundo.”

    Prudente também é sublinhar que o Instituto Sangari, ao constituir o Mapa da Violência 2010, fez recomendações consideráveis:

    “Todos os aspectos até aqui apontados exigem uma séria revisão das políticas vigentes de combate e enfrentamento da violência. E os caminhos dessa revisão não são difíceis de delinear: dever-se-á procurar promover políticas e estratégias que estimulem a plena inserção e papel protagônico para os principais atores e vítimas desse processo, os jovens e os negros; que se articulem esforços e iniciativas do setor público, seja federal, estadual, municipal, da esfera privada, das organizações não governamentais da sociedade. Desenvolver estratégias que promovam o conhecimento, a revalorização e o fortalecimento das identidades de jovens e negros e sua participação, como setor ativo e consciente da construção da cidadania e do desenvolvimento do país.”

    Não discrepam muito as constatações do Mapa da Violência do ano de 2011[2]:

    “Os elevados níveis de vitimização negra. Indicador trabalhado a partir do ano 2002, evidencia um forte e preocupante crescimento. Se em 2002 morriam proporcionalmente 46% mais negros que brancos, esse percentual eleva-se para 81% em 2005 e mais ainda, para 111% em 2008. Assim, morrem proporcionalmente mais do dobro de negros do que brancos. E isso acontece porque, por um lado, as taxas de homicídios brancos caíram de 20,6 homicídios em 100 mil brancos em 2002 para 15,9 em 2008. Já entre os negros, as taxas subiram: de 30 em 100 mil negros em 2002 para 33,6 em 2008.

   Entre os jovens, esse processo de vitimização por raça/cor foi mais grave ainda. O diferencial (índice de vitimização) que em 2002 era de 59% eleva-se para 96% em 2005 e pula para 134% em 2008. Mas essas são médias nacionais. Esmiuçando os dados, vemos que há estados como Paraíba ou Alagoas em que por cada jovem branco assassinado morrem proporcionalmente entre 11 e 12 jovens negros.”

     Constatada a dificuldade externada acima, exsurge a Rede Afro-Gaúcha de Profissionais do Direito como um movimento devotado à causa negra, sem conotação político-partidária e sem vinculação religiosa.

    Não se desconhece a importância de os movimentos sociais chamarem à atenção para determinados problemas, bem como exigirem posturas e políticas públicas que levem à solução ou à diminuição dos efeitos desses problemas. A Rede Afro-Gaúcha de Profissionais do Direito, contudo, parte de três premissas básicas:

 1) deve haver esforço máximo na construção de consensos;

 2)  ao lado do apontamento de um problema, deve haver a indicação de um caminho;

 3) mister ter foco no resultado com o fim de bem aproveitar os meios disponíveis e de se atingir resultados positivos.

    No que pertine à construção de consensos, a Rede Afro-Gaúcha tem se reunido com empresários, militantes sociais e culturais, políticos, operadores do Direito, dirigentes de entidades privadas e públicas.

   Parte-se sempre de uma problemática específica, tendo-se por base um projeto estruturado ou a se estruturar com a colaboração dos envolvidos. Privilegiam-se, portanto, o planejamento, o estabelecimento de metas, a busca de recursos, a constituição de indicadores de avaliação, a efetivação de ações corretivas e o alcance de resultados positivos.

   Essa escolha, sem dúvida, é a mais exigente, mas também é a que agrega mais possibilidade de êxito e maior credibilidade.

   Por essa postura que a Rede Afro-Gaúcha, tendo sido criada em 09.02.2010, tem crescido a passos largos, contando com 112 integrantes entre profissionais do Direito e Acadêmicos. Bom frisar que seria incoerente que um grupo voltado ao trato dos direitos humanos tivesse pré-concepção sobre a validade da incorporação de determinadas pessoas. Dessa arte, a Rede Afro-Gaúcha é composta por pessoas de diversas etnias, que residem em diversas localidades dentro e fora do Rio Grande do Sul e que experimentam diferentes momentos profissionais e estudantis. Em outros termos, o nome do grupo não pode conduzir ao entendimento de que há um perfil definido de seus integrantes, sendo bem acolhidos graduados e ainda não graduados em Direito, negros e não negros.

   Tal como a Suprema Corte Americana quando decidiu sobre o sistema de cotas nos EUA, a Rede Afro-Gaúcha de Profissionais do Direito tem plena ciência de que a diversidade interna fortalece o grupo, traz novos e revigorantes valores, bem como estimula a competitividade que conduz ao desenvolvimento.

   Ainda nesse tópico, é importante destacar que a Rede Afro-Gaúcha, constantemente, busca criar parcerias que facilitem o alcance de resultados positivos nos seus projetos e nos de outras entidades ou pessoas parceiras. Nessa trilha, é não é incomum a Rede Afro-Gaúcha estar envolvida em atividades de Coordenadorias Municipais de Igualdade Racial, do Coletivo de Clubes Sociais Negros, da Associação Cristã de Moços, da Empresa Carris Portoalegrense e da Faculdade Dom Bosco de Porto Alegre. Aliás, é oportuno dizer que, em 2.010, alguns integrantes da Rede Afro-Gaúcha passaram a também integrar a Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil, seccional do Rio Grande do Sul.

   Com o desiderato de ampliar e de qualificar a sua gama de parceiros, a Rede Afro-Gaúcha aderiu à pioneira Rede de Direitos Humanos do Sistema de Justiça e de Segurança do Estado do Rio Grande do Sul que, hoje conta com 27 entidades fundadoras, dentre elas a referida nesse texto, a AJURIS, a OAB/RS, o MP/RS, a Defensoria Pública/RS, o Ministério Público do Trabalho, o Ministério Público do Trabalho, a AMATRA, o Movimento Nacional de Direitos Humanos, a Brigada Militar e a Polícia Civil.

   Percebe-se, de plano, que, em pouco mais de dezoito meses, a Rede Afro-Gaúcha está em teatro privilegiado de discussões relevantes para os direitos humanos no Estado do Rio Grande do Sul. Tal fato aponta para a correção das eleições feitas e inspira a ideia de que esse texto pode levar outras pessoas e grupos a seguir caminho semelhante ou mais produtivo.

   A Rede Afro-Gaúcha pode ser considerada como um produto de dissertação de Mestrado em Direito que cuida da eficiência. Em campo acadêmico, houve o exame de dados e a tentativa de conciliar Direito, Administração e Economia. Tal exercício é reprisado pela Rede Afro-Gaúcha em suas reflexões e em seus agires, pois a situação hoje percebida carece de ações concretas e transformadoras.

    Calha aqui reproduzir parte do que se asseverou em outro ambiente[3]:

    “A eficiência é um critério de atuação administrativa concernente à utilização adequada dos meios disponíveis para se atingir os fins de interesse público, sejam eles primários ou secundários, da maneira mais abrangente e profunda possível diante das peculiaridades do caso concreto. Essas peculiaridades são o nível de informação que pode ser obtida pelo agente, o tempo disponível para o enfrentamento do problema, a quantidade de recursos disponibilizados e a necessidade de se satisfazer mais de um fim com o mesmo meio.”

    É de se registrar que o Estado, na pós-modernidade, não deve se limitar a evitar vulnerações aos direitos individuais ou coletivos. Deve, com efeito, dar efetividade aos direitos ou criar ambiente jurídico e econômico que permita que isso ocorra.

    Por outro lado, é consabido que o Estado tem numerosas demandas e escassos recursos, muitas ocasiões mal empregados, pois atua, em não raras vezes, em dessintonia com o princípio constitucional da eficiência.

   Dessas certezas geram-se duas verdades: deve-se trabalhar no campo da responsabilidade corporativa, pois o empresariado perde talentos, consumidores e investimentos estatais e estrangeiros no estágio que estamos; e mais, a eficiência ganha relevo, pois os movimentos sociais devem exigi-la nas atuações estatais e nas suas próprias ações para que tenham sustentabilidade e para que bem utilizem eventuais recursos alcançados por entidades públicas ou privados.

   Na medida em que se entende que os movimentos sociais devem ser propositivos, a Rede Afro-Gaúcha tem como prioridades três projetos: o Curso Acredite, o Projeto Grenoble e o de formação de profissionais para a área do audiovisual.

   O primeiro tem por objetivo a criação de um curso preparatório para concursos de carreiras jurídicas voltado para afrodescendentes no qual sejam ministradas disciplinas atinentes ao Direito, havendo atividades relativas à autoestima e ao empreendedorismo. Esse projeto não possui similar no país e já é de conhecimento de numerosas pessoas e entidades, estando em vias de ser concretizado no ano de 2.012.

   O segundo é o correspondente à uma parceria com uma renomada escola de Administração francesa, que ministra cursos em todos os continentes e possui tripla certificação. Por intermédio desse projeto, poderia afrodescendente brasileiro cursar Mestrado em Marketing, bem como ser treinée de empresa brasileira de padrão internacional. O aluno obteria o conhecimento e a titulação, o estabelecimento de ensino, que não cobraria pelo curso, abriria mais uma porta no Brasil e a empresa brasileira, custeando a manutenção do aluno pelo período de um ano no território francês e o contratando por um ano em sua sede, teria acesso a conhecimentos de ponta por um custo financeiro baixo.

   E o terceiro, de cunho social e não étnico-racial, visa à formação de jovens como profissionais da área técnica de televisão com possibilidade de contratação por empresa de grande porte, bem como criação de cooperativa de trabalho. O mais importante é que o projeto seria desenvolvido em um bairro populoso e carente de Porto Alegre, servindo como estímulo para outros grupos e efetuando verdadeira transformação social.

   Note-se, por conseguinte, que identificando a quase inexpressiva inserção do negro gaúcho nos postos de comando e influência do sistema de Justiça e de Segurança gaúcho, a Rede Afro-Gaúcha optou por criar curso e procurar parceiros institucionais. Assim sendo, são parceiros do projeto do Curso Acredite o Ministério Público/RS, a Fundação Escola Superior do Ministério Público/RS, a OAB/RS e a Faculdade Dom Bosco de Porto Alegre. Além disso, não é precipitado dizer que estudam se agregar a esse nobre grupo a AJURIS e a Rede de Direitos Humanos do Sistema de Justiça e de Segurança/RS.

   Percebendo que a falta de qualificação é entrave na disputa pelas vagas que oferecem melhor remuneração no mercado de trabalho, a Rede estimula a qualificação de profissional da área de Administração e a capacitação de jovens carentes no mundo tecnológico.

   As diretrizes da Rede Afro-Gaúcha de Profissionais do Direito são a eficiência, a eficácia e a construção de relacionamentos institucionais.

   Do ponto de vista econômico, trabalha-se com o fato de que a discriminação e o preconceito são antieconômicos. Em outros termos, eles conduzem à situação que inviabiliza ou dificulta o desenvolvimento de pleno de potenciais dos quais não pode abrir mão uma Nação como a nossa. Além de não explorar talentos, a sociedade que permite a perpetuação de ações discriminatórias cria para si problemas de ordem econômica e social que sugam seus já escassos recursos.

   Do ponto de vista jurídico, parte-se do ponto de que as atuações estatais e privadas devem estar balizadas pelo objetivo republicano de construir uma sociedade justa, democrática e solidária, ou seja, calcada no sobreprincípio da dignidade humana.

   Nesse trilho, é fundamental realizar atividades que dêem viabilidade a casos de pessoas que bem aproveitaram as oportunidades que tiveram e que se preocupam com a criação de chances para outros. Por esse motivo, foi criado e desenvolvido o projeto “personalidades” e há a participação no projeto VIDHAS da empresa Carris Portoalegrense.

    A justificativa do projeto personalidades se confunde com a justificativa da manutenção da Rede Afro-Gaúcha. Ela poderia ser sintetizada da seguinte forma:

 “O descompasso flagrante entre o número de negros e de pardos que compõem a população brasileira e o dos integrantes desse grupo de brasileiros que ocupam cargos ou funções relevantes social e economicamente impõe ações estatais e privadas. Mister, portanto, que sejam apresentadas referências positivas para toda a sociedade com o fito de estimular a construção de novos paradigmas.”

    A efetivação do projeto se daria e se deu por meio da constituição de peças na forma de vídeos, de locuções ou de cartazes que seriam divulgados com a intenção de trazer à tona ou de realçar as iniciativas, os trabalhos ou as conquistas relevantes de negros ou de pardos tendentes a servir de estímulos para que outras pessoas desenvolvam seus potenciais, deem acesso a outrem ou invistam em capacitações e qualificações profissionais.

    O projeto Personalidades, destaca-se, deita raízes na visão da Rede Afro-Gaúcha de Profissionais do Direito de que devem ser promovidas ações transformadoras e capazes de produzir efeitos práticos.

   Assim sendo, a Rede Afro-Gaúcha de Profissionais do Direito procurou o Grupo Record/RS apresentou o projeto e esse gerou a campanha   “Eu sou Negro Acima de Tudo”, criada pela agência Green de Porto Alegre. Os vídeos e anúncios foram veiculados na TV Record no Rio Grande do Sul, bem como nos ônibus da empresa Carris Portoalegrense que têm monitores de televisão e estão disponíveis na rede mundial de computadores, sendo reproduzidos, com os anúncios, em numerosos blogs.

   Um dos anúncios foi veiculado na edição comemorativa ao Dia Nacional da Consciência Negra do Correio do Povo e as locuções, no número total de cinco, foram veiculadas durante a programação da prestigiada Rádio Guaíba.

   Já o projeto Vidhas, mencionado acima, consiste em levar, de forma itinerante nas escolas públicas e privadas de Porto Alegre banners e debates sobre a situação do negro brasileiro contemporâneo, perpassando pela transmissão de informações relativas ao surgimento da preocupação com os direitos humanos no mundo, à luta pelos direitos civis nos EUA, ao apartheid, à escravidão no Brasil e à atuação de pessoas negras gaúchas que consideradas como possíveis de servir de referência para a adoção de novas posturas no campo da autoestima e da diversidade étnico-racial.

    Atingidos os objetivos referidos acima, ou seja, implementados os projetos supracitados, poderá a Rede Afro-Gaúcha de Profissionais do Direito partir para outras duas frentes de grande valia: a capacitação dos movimentos sociais e a qualificação dos integrantes da Rede Afro-Gaúcha.

   A capacitação dos movimentos sociais tem por escopo o fato de hoje os recursos privados e públicos não chegam necessariamente onde são mais necessários ou onde estão as melhores idéias. Chegam, a bem da verdade, em locais que estão mais estruturados para os buscar e para os gerir. Por conseguinte, é inafastável capacitar os movimentos sociais, sobretudo os atinentes ao campo da diversidade étnico-racial para que saibam criar, gerenciar e executar projetos, adotando linguagem e métodos que lhes permitam pactuar com o Poder Público e com a iniciativa privada.

    A qualificação dos membros da Rede Afro-Gaúcha de Profissionais do Direito permitirá que eles obtenham maior inserção e crescimento profissional, bem como possam melhor atender grupos hoje muitíssimo necessitados.

   É despiciendo discorrer sobre a importância dos denominados “clubes sociais negros” no Estado do Rio Grande do Sul, já que não se limitam a serem locais de reuniões de pessoas, servindo como pontos de referência histórica e cultural, bem como de obtenção de capacitação para melhoria de situação socioeconômica.

   A realidade é que os clubes sociais referidos enfrentam graves problemas de gestão e, em decorrência disso, acabam por sofrer demandas judiciais de diversas ordens. Com o fito de bem atender essa clientela, é preciso conhecer suas especificidades culturais, regionais e econômicas e ter possibilidade de cobrir a área territorial do Estado. Além disso, impõe ter forte base técnica nos campos do direito tributário, do direito autoral, no direito das coisas e no direito administrativo e, obviamente, do direito processual civil.

    Outra necessidade premente é que grupo de profissionais possam atender aqueles que sofrem discriminações de cunho racial, conhecendo com profundidade o arsenal legislativo aplicável e os casos já judicializados no Brasil e fora dos limites territoriais brasileiros.

    É intenção da Rede Afro-Gaúcha constituir grupos de estudo e banco de dados que servirão de meio de capacitação interna e base para a realização de cursos para advogados e para Defensores Públicos no Rio Grande do Sul, ampliando-se a rede de atendimento do público-alvo já mencionado. Aliás, espera-se que tal iniciativa colabore para o exercício das atribuições das previstas e não instituídas ouvidorias permanentes[4].

     A experiência da Rede Afro-Gaúcha de Profissionais do Direito, que já tem membros, no Rio Grande do Sul, em Porto Alegre, em Caxias do Sul, em Pelotas, em Rio Grande,em Santo Ângeloe em Alvorada, pode ser reproduzida em outros locais tendo, inclusive, outra vertente que não a jurídico-social. O fundamental é que se organize um movimento plural, atento à sustentabilidade, acessível a todos e focado na consecução de objetivos transformadores.

    Não se pode descurar do fato de que vivemos momento de plena competição, também no campo social e somente poderão bem cumprir seus fins aqueles que tiverem coesão, que tiverem planejamento estratégico, projetos e ampla rede de parcerias e de informações[5]. Em síntese, ao realizar a advocacy, os movimentos sociais exigem que o Poder Público seja eficiente (artigo 37, caput, CF/88). Ao agir também terão que ser eficientes para que tenham credibilidade junto aos demais movimentos, ao Empresariado e ao próprio Poder Público.

 

 JORGE LUíS TERRA DA SILVA

COORDENADOR DA REDE AFRO-GAÚCHA DE PROFISSIONAIS DO DIREITO

 


[1] Manifestação no dia internacional para a eliminação da discriminação racial em 21.03.2011 http://www.onu.org.br/anoafro2011

[2] Walselfisz , Julio Jacobo Mapa da Violência 201: os jovens no Brasil – São Paulo; Instituto Sangari ; Brasília, DF : Ministério da Justiça, 2011.

[3] Terra Silva, Jorge Luís, A eficiência como fator transformador, dissertação de Mestrado, PPGD/UFRGS, 2007

[4] Art. 51.  O poder público federal instituirá, na forma da lei e no âmbito dos Poderes Legislativo e Executivo, Ouvidorias Permanentes em Defesa da Igualdade Racial, para receber e encaminhar denúncias de preconceito e discriminação com base em etnia ou cor e acompanhar a implementação de medidas para a promoção da igualdade.(lei 12.228/2010 – estatuto da igualdade racial)

 

[5] Wegner, Gerhard, Instuições nacionais em concorrência; tradução prof. Urbano Carvelli, Porto ALEGRE, Sérgio Fabris Ed., 2007.

4 de dezembro de 2011

Procurador gaúcho pode se tornar 2º desembargador negro

Procurador gaúcho pode se tornar 2º desembargador negro
Por: Redação – Fonte: Afropress – 2/12/2011

Porto Alegre – O Procurador do Estado Jorge Terra, poderá se tornar o segundo negro a ocupar uma cadeira no Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, concorrendo pelo quinto constitucional reservado a Ordem dos Advogados. Ele concorre com mais 15 candidatos. Na semana que vem (dia 09) ele será ouvido pelo Conselho Seccional da OAB gaúcha. Cada candidato terá sete minutos para se apresentar e será questionado pelos vinte conselheiros durante três minutos.

Terra disse que está confiante. “Vou mostrar que tenho preocupação, não apenas com os direitos humanos, mas que, principalmente, posso ser representante dos anseios da OAB quanto ao sistema de Justiça”, afirmou.

No Rio Grande, apenas 16% da população é negra e, no Judiciário, segundo o procurador, dos 320 procuradores do Estado, há apenas dois negros, um dos quais, ele próprio. Na magistratura estadual, em cerca de 650 membros, há apenas um desembargador e um juiz de Direito. No Ministério público, apenas um promotor de Justiça. “Estou falando em cinco profissionais num universo de mais de 2 mil profissionais”, frisou.

Embora acredite que possa se tornar o segundo negro a ocupar o cargo de desembargador, ele não é otimista em relação ao aumento da participação de negros no Judiciário gaúcho. “Se nós continuarmos nesse ritmo, a tendência é piorar, porque as pessoas cada vez mais buscam a carreira pública. E para competir numa carreira pública há um custo elevado. Isso faz com que acabe se gerando uma certa elitização e isso é ruim para as instituições. As instituições acabam recrutando as pessoas nos mesmos lugares e não se muda instituições se não se consegue mudar as pessoas que as integram. Então, para a própria instituição é negativo que isso aconteça”, afirmou.

Na entrevista que concedeu ao editor de Afropress, jornalista Dojival Vieira, Terra – que é casado, pai de dois filhos, membro da Comissão de Direitos Humanos da OAB gaúcha e coordenador da Rede Afrogaúcha dos Profissionais de Direito – falou da trajetória de vida, dos exemplos da família, especialmente da avó Bita, do Curso Acredite destinado a preparação de jovens negros profissionais do Direito e mandou um recado.

“O conselho que eu poderia dar é: não queira nunca ser uma vítima. Fuja do “coitadismo“. Não fique esperando que algum governo, que alguma entidade, vá fazer algo por você. Acredite na sua potencialidade, acredite na sua beleza, na sua força, na sua altivez, na sua possibilidade de mudar a sua vida, da sua família, da sua comunidade”, afirmou.

Leia, na íntegra, a entrevista do procurador Jorge Terra, à Afropress

Afropress – Procurador, fale um pouco da sua trajetória de vida e do porque o senhor pretende se tornar o segundo negro a ocupar o Tribunal de Justiça gaúcho?

Jorge Terra – Bom, eu sou procurador do Estado desde o ano 2000, sou advogado desde 1994. Fui advogado de um município aqui próximo, Alvorada, e fui assessor do Ministério Público e sempre nessas carreiras sempre foi mediante concurso. Fui professor universitário também.

Agora vejo uma trajetória natural essa minha candidatura. Óbviamente que o Tribunal de Justiça não é um local de militância, mas é importante a minha presença, ou a presença de alguém que faça o trabalho que eu faço com relação a diversidade racial, para trazere outros valores. A nossa sociedade, as nossas instituições crescem quando elas respeitam a diversidade.

Inclusive nos EUA, quando foram decidir sobre o sistema de cotas, a Suprema Corte não viu como um direito das pessoas de ter acesso, viu como as instituições cresceriam como elas se tornariam mais competitivas ao respeitar a diversidade. E é isso o que penso.

Um país que quer crescer, que está crescendo tem de respeitar a diversidade, tem de dar oportunidade as pessoas e mais do que isso: não pode desperdiçar talentos. E as pessoas que podem – e eu acho que posso – devem ir para a disputa, devem ir, não digo para o embate, mas para a disputa verdadeira, a disputa respeitosa por espaços, espaços que são importantes para que toda a sociedade comece a se conhecer melhor, comece a se tratar melhor e realmente vire uma sociedade justa democrática e solidária.

Afropress – O senhor está confiante?

Jorge Terra – Sim, estou confiante. Sei que é uma disputa em três terrenos, bem distintos, com suas peculiaridades. Porque primeiro é uma disputa na OAB, depois uma disputa no Tribunal de Justiça e depois a escolha final do governador. Eu sei que é um caminho bem difícil, mas sei que é mais que um desejo pessoal. Eu sinto que é uma obrigação minha de participar desse certame. Eu tenho possibilidade de contribuir, mais do que pelo que posso dizer, e sim que pelo que possa fazer, um trabalho diário na magistratura, de mostrar que os negros também podem ser esforçados, competentes, de mostrar o que para nós parece uma coisa tão simples, mas as vezes não é.

Então, ocupar espaço institucional é importante para que eu ou outro que venha a ocupar esse cargo, mostre como as pessoas podem contribuir para uma sociedade melhor.

Obviamente lá vão ter processos a julgar, casos a examinar e terei que examinar e terei que examinar com técnica, mas a técnica não está dissociada da nossa história de vida, das nossas circunstâncias. Então é isso que eu pretendo fazer caso seja escolhido.

Afropress – Em um estado que tem 16% da população negra, como é que um homem negro chegou a procurador e agora tem a perspectiva de se tornar desembargador. Fale um pouco da sua história de vida até aqui, eu imagino que tenha sido uma história muito especial com muitas dificuldades, muitos obstáculos…

Jorge Terra – Minha história está muito ligada à minha família. Eu vejo que a diferença da minha história para as outras histórias que conheço está na minha família, na relação que tive, especialmente, com a minha avó, com a minha mãe também, mas especialmente com a minha avó.

Mostrar que nós temos capacidade, o que não pode nos faltar é esforço e tem de haver sempre o acreditar. A pessoa tem de acreditar no seu potencial e usufruir dele ao máximo. Não imaginando que nós somos superiores ou inferiores a alguém, mas que todas as pessoas que se esforçam um dia terão o seu retorno. Eu sempre pautei minha vida pelo esforço, obviamente, há uma questão de sorte, há uma questão de potencialidade, mas sem o esforço nada disso valeria.

Afropress – O senhor estudou em escola pública?

Jorge Terra – Grande parte da minha formação é de escola pública, numa época em que a escola pública era muito boa. Fiz os dois últimos anos do segundo grau numa escola particular e ingressei na universidade federal, que não era muito comum porque não havia sistema de cotas.

Lá também eu fiz minha pós-graduação, mestrado também foi na universidade federal. Muito embora tenha começado a advogar privadamente, eu via o meu caminho no setor público. Então eu comecei a me trabalhar para realizar concursos. Fiz muitos concursos e fui indo gradativamente melhorando.

Afropress – O senhor sempre exerceu a advocacia pública?

Jorge Terra – Comecei num município pequeno, advogando. Depois na assessoria do Ministério Público até chegar a Procurador do Estado, onde estou há 11 anos. Então, vejo a magistratura como um caminho natural de alguém que milita na área e que já tem uma certa experiência, no exame de processos, no exame de situações. Creio que já cheguei num nível técnico que me permite competir e talvez contribuir de alguma forma para que a magistratura gaúcha, que já é uma tradição, se mantenha nesse patamar de inovação, que ela é inovadora, e também num patamar técnico elogiável por todos os entes da federação brasileira.

Afropress – Como se trata, obviamente de um processo eleitoral, que se dividirá em três momentos, imagino que já esteja articulando, fazendo contatos, no sentido de buscar apoios. Como está sendo a sua movimentação, não só no âmbito da classe, mas também interlocução, já tem se movimentado junto ao Tribunal, ao Governo do Estado porque, afinal de contas, nós sabemos que essa decisão do governador ela não é uma decisão que um belo dia o governador acorda e diz: “vou escolher o Jorge terra, desembargador”. Há todo um processo aí. Como é que o senhor está se movimentando?

Jorge Terra – Em verdade, nesse trabalho que venho desenvolvendo eu acabo falando com muitos setores, muitas pessoas, muitas entidades. Algumas eu fui conhecendo e as pessoas também foram conhecendo o meu trabalho. Então, quando ficaram sabendo dessa minha intenção vieram até mim e se dispuseram a me auxiliar.

Mas, o caminho que ainda não fiz, mas que terei de fazer é de me apresentar a cada um dos conselheiros estaduais, mostrando a minha preocupação, a minha intenção com a advocacia, porque como eu disse, o Tribunal não é um local de militância.

Eu tenho um trabalho ligado a advocacia, principalmente na preocupação que eu tenho com relação a recuperação de crédito, com relação a eficiência da administração (esse foi o tema da minha dissertação de mestrado) e também tenho uma preocupação com os direitos humanos.

Então esses três caminhos serão meu mote para me apresentar aos conselheiros, e mais adiante, vencida essa fase, aí sim passar para a segunda fase que é junto ao Tribunal. Mas, nunca perdendo de vista que a escolha final se dá no seio do Governo. Então, também em paralelo, tenho que começar a criar essas relações, sem maiores comprometimentos porque nem o Tribunal gostaria de escolher alguém que fosse umbilicalmente ligado ao Governo. Há um rechaço a isso e um rechaço é com razão.

Na verdade é uma relação respeitosa para mostrar o quanto eu posso ser técnicamente responsável, o quanto eu posso ser útil aquela instituição sem, na verdade, o comprometimento das minhas posições, da minha opinião sobre os temas importantes para a sociedade, bem como com relação aos processos propriamente dito.

Então, sendo mais objetivo: primeiramente vou terminar a minha busca, o meu contato com os conselheiros porque nem todos estão na minha cidade, tenho que me deslocar até o interior.

Afropress – Quantos são?

Jorge Terra – São 50 e cada um tem direito a seis votos. Depois passarei, aí sim, a busca de apoio no Tribunal, e ajuda-me pelo fato de já ter algumas relações no Poder Judiciário por compor a Rede de Direitos Humanos. Lá não há a presença do Tribunal propriamente dito, mas há da Associação dos Juízes. Então, eu conheço alguns deles, alguns deles me conhecem, então isso pode me ajudar nessa articulação.

E junto ao Governo, eu não tenho articulação, aliás com partido político algum, mas eu tenho alguns projetos, que são comuns a algumas secretarias, em especial. Então, esse conhecimento pode ser que me ajude nessa articulação junto ao Governo.

Afropress – Como é que o senhor vê a situação da população negra gaúcha e a presença negra no Poder Judiciário. O Poder Judiciário tem um viés que não é acessível a grande maioria das pessoas negras. O poder Judiciário recruta os seus quadros da classe média alta prá cima e, portanto, o nosso acesso é complicado. Eu sei que o senhor tem um trabalho voltado a incentivar os estudantes de Direito. Que mensagem o senhor quer deixar ao jovem pobre e negro que aspira uma carreira no Judiciário.

Jorge Terra – Hoje nós somos de 320 procuradores do Estado, dois negros. Na magistratura estadual, em torno de 650 a 680 membros, um Desembargador e um Juiz de Direito. E no Ministério Público, 650 a 680 membros, um Promotor de Justiça.

Estou falando em cinco profissionais no universo de mais de 2 mil profissionais. Se nós continuarmos nesse rítimo, a tendência é piorar, porque as pessoas cada vez mais buscam a carreira pública. E para competir numa carreira pública há um custo, porque as pessoas tem de ter o dinheiro para o curso, para os livros, tem que ter o tempo para estudar. Isso faz com que acabe se gerando uma certa elitização e isso é ruim para as instituições. As instituições acabam recrutando as pessoas nos mesmos lugares e não se muda instituições se não se consegue mudar as pessoas que as integram. Então para a própria instituição é negativo que isso aconteça e é importante que as instituições entendam isso.

Tentando ser propositivo eu criei projeto de cruso preparatório para afrodescendentes para a carreira jurídica. Esse curso não se restringe a transmitir conhecimentos jurídicos. Ao meu ver, o fato de nós sermos apenas cinco nesse universo de mais de 2 mil , passa muito pela questão da autoestima. Por isso quando eu criei o projeto me preocupei muito com essa questão. Então é um curso que tem Direito, Auto-estima, Compromisso Social e Empreendedorismo.

Direito hoje é acessível pela Internet, ensino a distância e faculdades tradicionais. Agora Auto-estima é um trabalho que eu considero mais importante porque toca na história de cada um, a história de nós todos. Muitas vezes em casa há uma certa postura, as vezes até de preservação. As mães, principalmente, querem nos preservar da dor e dizem, “ah mais isso não é prá ti, “prá você já ta bom.””

Na verdade, nós sempre temos que ir para a disputa, ir para a luta, mas também estarmos preparados para receber um não, mas não nos limitarmos ao não. Quando o não vier, vamos de novo, vamos tentar até o sim aparecer.

Compromisso Social para que nós entendamos que o fato de nós já termos o nosso carro, o nosso cargo, a nossa casa, não significa que o mundo está perfeito. Tem muita gente ainda precisando, muita gente que está excluída e que precisa da gente.

E o Empreenderismo para que esses servidores não sejam servidores com esses estereótipo que é muito veiculado por aí. Sejam servidores propositivos, servidores engajados preocupados com a melhoria do serviço que é prestado a população.

E aqueles que não lograrem êxito no concurso que possam se preparar para o setor privado ou serem advogados, profissionais que saibam como se portar, como captar clientes, como manter clientes, como manter seu escritório.

Então, tentando resumir, vejo a situação hoje no Rio Grande do Sul , a quantidade de profissionais integrados às instituições certamente não espelham a população negra gaúcha. Nós não chegamos a esse patamar de 16%.

Então, como podermos chegar? Basta o Pró-Uni, basta o sistema de cotas nas universidades. Talvez baste no campo da academia, no campo universitário, mas não no mercado de trabalho. Quando as pessoas saem da universidade é que elas vão encontrar dificuldade maior . Como me preparar para um concurso tendo que sobreviver e competindo com pessoas que tem estrutura para bancar os cursos? É aí que entra o Curso Acredite. O Curso Acredite estamos em conversações com a Secretaria de Justiça e Direitos Humanos para que tenha uma turma e já iniciamos conversações para que tenha uma segunda turma para que possamos abrigar não quarenta alunos, mas sim oitenta alunos em cada semestre. Essa é a minha contribuição.

Afropress – Que mensagem o senhor quer mandar aos jovens negros do Brasil, a juventude negra brasileira que sonha, que luta e que aspira para superar as dificuldades?

Jorge Terra – Não foi de graça que escolhi o nome acredite para o Curso. Eu realmente acredito que a vida pode ser melhor. E não é um mero sonho, aliás eu não acredito em sonho. Eu acredito em objetivo. Eu acredito que as pessoas tem de traçar objetivos. Se ela quer ser um jogador de futebol então treine, se dedique, treine para chutar de pé esquerdo, cabecear, se preocupe com a questão física, treine para ser um bom jogador de futebol.

Se ela quer ser um advogado, então se preocupe com o seu português, se preocupe com a sua interpretação de textos, procure ser bom, procure ser útil no que se propuser a fazer.

Mas, o conselho que eu poderia dar é não queira nunca ser uma vítima. Fuja do coitadismo. Não fique esperando que algum governo, que alguma entidade, vá fazer algo por você. Acredite que você mesmo com todas as suas dificuldades, mas com sua potencialidade, seu esforço, deve procurar enfrentar a dificuldades, não ceder aquilo que a mídia muitas vezes trasmite, que o belo é outro, que inteligente é o outro, que o capaz é o outro.

Acredite na sua potencialidade, acredite na sua beleza, na sua força, na sua altivez, na sua possibilidade de mudar a sua vida, da sua família, da sua comunidade. Acredite que você pode ser útil. É dessa forma que eu tenho pautado minha vida. Na verdade o que trago na vida são três lições: uma lição da minha avó, uma lição da minha mãe, uma lição do meu avô. Meu avô Leopoldo, minha avó, Ijoceminia (Bita), minha mãe Aracelli.

Minha mãe me ensinou sem querer, ou querendo, o senso de Justiça, porque ela dizia que toda vez que fosse na padaria, eu deveria trazer o troco. Não importasse o quanto fosse eu tinha de entregar o troco. Então ela me deu uma idéia de justiça e de honestidade.

O meu avô, numa época em que eu quis jogar futebol, disse que eu deveria jogar com o pé esquerdo. Então, ele me fazia, aos seis anos, treinar todos os dias, me proibia de chutar com o pé direito e me fazia chutar com o pé esquerdo. Com aquilo me ensinou determinação, dedicação aquilo que a gente se propuser a fazer.

E minha avó me ensinou dizendo que eu tinha de me dar com todo mundo. Então minha avó me ensinou o respeito à diferença. Me ensinou a auto-estima. Me ensinou que eu tenho de confiar em mim, que eu posso entrar em qualquer ambiente, que eu posso falar com qualquer qualquer pessoa, que eu posso ir a qualquer lugar, que eu posso ser o que eu quiser ser, o que meu esforço e a minha capacidade me permitirem ser.

fonte: www.afropress.com

Crie um website ou blog gratuito no WordPress.com.